segunda-feira, 23 de maio de 2011







Devemos lembrar, antes de qualquer coisa, que na Constituição da República Federativa do Brasil, Título VIII (da ordem social), no Capítulo III (da educação, da cultura e do desporto), na Seção I (da educação), diz em seu artigo 215. “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais".

Deste modo, cabe então a nós – humanos brasileiros – reivindicar, concretizar, fomentar e valorizar as diversas expressões culturais e os seus criadores, bem como garantir o direito à livre iniciativa artística e à adoção de todas as providências a garantir o efetivo exercício do direito a expressão da liberdade criativa. Assim preservando o interesse da humanidade, pois acreditamos que o direito a produzir e compartilhar uma obra de arte traz sentido à vida e enriquece a formação humana.

O surgimento deste projeto deu-se pela necessidade urgente de discutir em nossa sociedade a questão do Gênero, não somente enquanto conceito restrito à Academia ou como um discurso vazio e demagógico, mas enquanto prática política. Assim, sua realização se justifica.

O objetivo principal deste trabalho é discutir o amor e o ato de amor enquanto sentimento desenvolvido pela capacidade humana, uma manifestação de nossa humanidade. Por isso, está o amor para além das definições sexuais, das morais radicais religiosas, dos véus de preconceito e discriminação que ainda são, infelizmente, visíveis em nossa sociedade.

Sendo um dos países com maior número de assassinato de homossexuais no mundo (O GGB documentou de 1980 a 2009, 3.196 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil, concentrando-se 18% na década de 80, 45% nos anos 90 e 37% a partir de 2000), o Brasil evita discutir esta forma de preconceito dando maior ênfase às discussões sobre racismo. Esta é a opinião também do decano do movimento gay brasileiro, o baiano Luiz Mott, para quem a sensibilidade política em relação à questão racial deve ter tanta importância quanto a sensibilidade em relação à questão homossexual[1].

Por outro lado, movimentos como o feminista, atuante no Brasil de diversas formas desde pelo menos o começo do século XX, vem avançando em suas discussões sobre as diversidades de Gênero. Um exemplo desta ampliação temática e política é o Seminário bienal Fazendo Gênero, realizado sempre no campus da Universidade Federal de Santa Catarina e contando com um número cada vez maior de participantes (cerca de 4000 pessoas em 2010) numa rede também ampla de temas e discussões. Assim, ao lado da problemática sobre a violência contra a mulher – que gerou, por exemplo, a aprovação da Lei Maria da Penha 11.340/06 – aparece, de modo crescente, a problemática das violências de Gênero de forma geral.

Os preconceitos de Gênero no Brasil tem grande parte de suas raízes na moral religiosa e na tradição cultural que recebeu desde os tempos coloniais. Discutir o Gênero inevitavelmente passa pela discussão de nossa cultura específica e da influência de uma moral cristã distorcida e preconceituosa em nossas escolas, na família, nas igrejas, nos diversos espaços de convivência. Ao problematizar estas questões, nosso projeto pretende colocar diretamente “o dedo em nossas feridas mais profundas”, em nosso medo arraigado, em nossos pudores emudecidos.

Como parte de um trabalho que vem sendo desenvolvido há cerca de quatro anos, é chegada a hora de colocá-lo em prática, de materializar uma estrutura cênica que seja capaz de expressar as ideias dele decorrentes. Com esta estrutura, propositadamente situada na rua Farme de Amoedo em Ipanema-RJ (como símbolo que é da cultura homossexual e da diversidade de Gênero), pretendemos dialogar com o público que frequenta naturalmente este espaço, de modo a despertar nele uma semente de reflexão.

A partir daí o amor (não somente enquanto problema e objeto a ser discutido, mas como sentimento que nos move em direção ao outro), poderá agir em suas dimensões de subversão, de compreensão, de comunhão de pensamento.



Ver também o site oficial do GGB: http://www.ggb.org.br



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