domingo, 1 de abril de 2012


A reinvenção do meu mito pessoal



A questão do poder desde sempre me mobilizou pelo fato de que o exercício tirânico do mais forte (a moral judaico-cristã-capitalista) atua no sentido de cercear a livre afirmação de amar utilizando-se dos mecanismos de culpa, de medo e de julgamento para nos manter sob sua dependência.

O falo branco ereto fincado na areia a céu aberto, traz muitas camadas de leitura. Uma delas refere à simbologia da carta do diabo[1], da energia criativa; outra, reporta à cruz de cabeça para baixo – energia de escárnio e rejeição às morais radicais religiosas; e ainda uma terceira camada alude à imagem simbólica do meu mito da criação.


A dramatugia “Em nome do pai e do filho e do espírito santo, amém!”, representa o trânsito de uma crença dogmática para uma crença na metamorfose dos aforismos subjetivos, tornada visível pela simbologia do incesto[2] utilizada.

A transformação é um gosto sentido dia à dia. O passar do tempo foi desvelando outro modo de estar no mundo. Um forte movimento que explode os limites do absurdo cotidiano ordenado. É o ato sublime de “renascer em si mesmo” através da imagem simbólica do pai deflorando o filho com o falo branco numa grande cama de areia a céu aberto.

Renascido coloco o “eu-corpo” no mundo livre para quem ainda vier a me amar. Assim como celebro a fertilidade intensa, a vitalidade explosiva e a riqueza múltipla de um amor por tudo aquilo que habita o universo.

Através de suas simbologias, Incômodos faz uma ode à vitalidade explosiva, à fecundidade, à regeneração, à colheita dos frutos e ao aleitamento que se opõem radicalmente à castração, à posse, à dominação e à figura inibidora. Com tudo isso, mas sem guerra, intentamos ser uma infantaria amorosa para oferecer resistência a essa moral judaico-cristã-capitalista que, desencorajando os esforços de libertação, nos priva e impõe limites e esterilidades com o desejo de nos manter sob sua dependência. Portanto, é um libelo em favor do amor, da livre afirmação de amar, de não temer a vida e a vontade abafada de despertar o que temos de melhor a oferecer, ou seja, ARTE, AMOR e SUBVERSÃO.





[1] Gerd Ziegler, no livro Tarô: espelho da alma: manual para o tarô de Aleister crowley, diz: “O Diabo é mais uma daquelas cartas que com freqüência são erroneamente compreendidas. Para entendê-la é preciso libertar-se de todas as idéias morais e supersticiosas comuns. / O diabo é representado pelo deus Pã, na forma de um bode-montanhês branco com grandes chifres retorcidos. A coluna atrás dele simboliza o pênis ereto, os dois globos abaixo simbolizam os testículos. Esta é uma representação da energia criativa em seu aspecto mais material e másculo. / Nos globos, como células de esperma, estão quatro corpos femininos e quatro corpos masculinos, que são os portadores do novo.” ZIEGLER, Gerd. Tarô: espelho da alma: manual para o tarô de Aleister crowley. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993, p. 57.

[2] Definição de incesto encontrada no dicionário de símbolos por Juan-Eduardo Cirlot: “Enquanto que as uniões de matérias parecidas são símbolos do incesto, como por exemplo, na música, a idéia de um concerto para harpa e piano; o próprio incesto, por sua vez, segundo Jung, simboliza o desejo de união com a essência de si próprio, quer dizer, a individuação. Por este motivo os deuses das mitologias costumam gerar com grande freqüência por meio do incesto”. CIRLOT, Juan-Eduardo. Dicionário de símbolos. Tradução de Rubens Eduardo Ferreira Frias. São Paulo: centauro, 1999, p. 313.

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